who am I
“A memória é essa claridade fictícia das sobreposições que se anulam.”
                                                                                             
Ana Hetherly

Somos levados a pensar que escolhemos as memórias que guardamos. A memória, seja ela colectiva ou individual, enquanto facto vivido e experênciado pode ser desmistificado ou desconstruído se refletirmos na possibilidade de nos lembramos de coisas mesmo que elas não possam ter acontecido. Memórias adquiridas e implantadas em nós por força de processos de aprendizagem ou até mesmo resultantes do processo de aculturação a que somos sujeitos. Este discurso da memória enquanto facto vivido por experiências pessoais, pode ser desconstruído quando atentamos por exemplo a uma série de fotografias da nossa infância que nos tomam por garantido que de facto o que está inscrito nessa imagem é uma verdade assumida. Se adicionarmos esse evento retratado à recriação que nos chega por via das memórias de terceiros que nos verbalizam esses eventos, tomamos então por verdade assumida a memória.
Partindo da ideia que pretende refletir sobre a possibilidade das memórias nos serem incutidas pelos mais variados meios e sabendo que a memória também depende da capacidade imaginativa, pretende-se discursar sobre essa possibilidade das memórias não serem à partida nossas, mas incutidas, impressas e depois sim, pela recriação, construção e imaginação, tornadas reais e nossas.
Seremos sempre feitos de memórias como se tatuagens de luz se tratasse. Somos sempre mais “heróis” do que somos na realidade. Veja-se quando contamos uma memória de um acontecimento. Acrescentamos com a subjetividade que nos é inerente o pormenor que dá a espetacularidade sempre tão necessária às nossas vidas quotidianas. Isso não nos torna mentirosos. Torna-nos criadores.

Partindo de um conjunto de imagens seleccionadas e captadas por via da apropriação, e usando a auto-representação do corpo como tela de memórias, pretendo trazer à discussão essa possibilidade da memória criada, imposta, sonegada, inventada, recriada por via da projeção da luz no corpo e/ou em partes dele. Estas “tatuagens de luz” usam a relação com o corpo expressivo. Corpo esse que não é estático mas reativo a emoções que nos trazem as memórias.
As imagens constantes de álbuns fotográficos familiares, foram projectadas no corpo por via de projeções conseguidas com um projector multimédia, explorando ângulos e distâncias variadas para se obter um nível de iconicidade que permitisse abrir e tornar vagas ou dúbias as possíveis interpretações.

Agradecimentos:
Este projecto nunca seria possível sem a existência da Escola Informal de Fotografia. Uma palavra especial à coordenadora de projectos da EIF, Escola Informal de Fotografia, Susana Paiva.
Ao Nelson Gomes que partilhou muitas das memórias, criadas ou reais.
A todos os fotógrafos participantes nesta edição da EIF, Coimbra, Lisboa e Porto.
Carlos Gomes
who am I
Published:

Owner

who am I

“A memória é essa claridade fictícia das sobreposições que se anulam.” Ana Hetherly Somos levados a pensar que escolhemos as memórias que guarda Read More

Published:

Creative Fields